sexta-feira, 4 de maio de 2012

'O bebê também merece um parto sem dor'

O nascimento não precisa ser só um momento de dor.
(Pode tornar-se uma aventura tranquila)!



Depois de nove meses de calor e proteção absoluta, o bebê é expulso do útero com violência e dor. Como se isso não bastasse, outros sofrimentos esperam por ele na sala de parto e no berçário: claridade excessiva, sufocação, frio e sensações de morte, angústia e abandono. Mais ou menos o que sentiria um adulto «se fosse de repente lançado num deserto, absolutamente só», afirma nesta entrevista o médico francês Frederick Leboyer, introdutor do método de nascimento que tem seu nome. 

Como obedece à natureza, boa parte do sofrimento do bebê é evitada por esse processo, garante Cláudio Basbaum, primeiro obstetra a empregá-lo regularmente em São Paulo. E a parturiente? Como reage? A cantora Baby Consuelo, mãe de quatro filhos – três dos quais nascidos pelo método Leboyer – depõe sobre o «sentimento profundo de felicidade» que teve durante esse tipo de parto.
 
Apaixonado pelas tradições orientais, homem simples, para quem todas as coisas devem ser feitas de forma muito natural, o médico francês Frederic Leboyer, depois de anos de trabalho com gestantes e recém-nascidos, lançou-se numa cruzada até agora pouco compreendida: a de trazer o amor para a sala de parto. Há quem o critique (e são muitos). Mas os poucos que o aceitam entendem que o nascer é, acima de tudo, uma aventura tranqüila, que tem na Natureza um guia lúcido e experiente.


Por que o senhor se preocupa com os sentimentos da criança, na hora do seu nascimento? Não seria melhor dar mais atenção à saúde física do bebê e da mãe?
- O problema é que, com o avanço da tecnologia, acabamos reduzindo tudo o que se refere ao parto a um simples processo técnico-científico. Mas o nascimento é, acima de tudo, um ato de amor. Deixamos o amor fora da sala de parto, esquecendo os resultados que essa atitude pode trazer. Me responda: qual é a primeira reação da criança, na hora do nascimento?

Bem, normalmente chora...
- Dizemos melhor; a criança urra. E as pessoas ficam contentes; o médico, a mãe, o pai. E dizem, com orgulho; “Veja como seu choro é forte”. Para eles, esse grito é sinal de que tudo está bem, que os reflexos da criança são normais, que a “máquina” funciona. Ninguém se pergunta; “Se ela grita desse jeito, não estaria sentindo um mal-estar muito grande”?”.

Mas como se pode sabê-lo? Em outras palavras; como podemos ter certeza de que o bebê chora porque está sofrendo?
- É simples, a própria criança responde. Claro que ela não fala, mas nem sempre é necessário falar. Os olhos cerrados, a fisionomia contraída, o choro desesperado, as mãos crispadas, implorando, depois próximas da cabeça, num gesto de desespero. Os espasmos do corpo, todo aquele tremor. O recém-nascido não fala? Nós é que não sabemos ouvi-lo.

Mas todas as crianças nascem assim. Parece que o sofrimento, na hora do parto, é natural, inevitável.
- Claro, sempre ouvimos dizer “o nascimento é sofrimento, a vida é sofrimento”. Além disso, em muitos de nós, existem resquícios de crueldade. É desagradável dizer isso, mas é verdade. Tem gente que diz: eu nasci assim sofri assim, para que mudar agora? É a lei de “talião” envolvendo as pessoas. Existem também aqueles que mascaram essa crueldade com um verniz de “boas intenções”. Eles dizem: a vida é dura, difícil, o mundo é um sofrimento. Por isso, é bom que as crianças se acostumem desde cedo com esse sofrimento. O que fazer diante desse tipo de pessoa? É triste, mas precisamos reagir. Todos aqueles que acreditam na possibilidade do parto sem sofrimento precisam reagir.

Mas o parto sem dor já é uma realidade?
- É uma realidade para a mãe. É preciso iniciar, agora, a mesma campanha de informação e esclarecimento com relação ao parto sem sofrimento para o bebê.

E por onde podemos começar?
- Creio que podemos partir da admissão do fato de que, para o bebê, o parto é uma experiência horrível. E o que torna o nascimento tão terrível é o verdadeiro bombardeio de sensações novas a que a criança é submetida. Todos sabem que tudo o que é novo, desconhecido, provoca medo. Imaginemos o parto; muito antes de surgir com sua cabeça na vagina da mãe, iniciando o nascimento, o bebê já passou por grandes sofrimentos físicos. Sente a rejeição do útero, que o abrigou por nove meses e que de repente começa a expulsá-lo com violência. Teve de suportar, sobre os ainda frágeis ossos do crânio, uma pressão extremamente dolorosa. E logo que surge para a vida, o que acontece? É agredido por uma claridade violenta, que chega a cegá-lo, principalmente se lembrarmos que seus olhos nunca tiveram contato com a luz. Seus ouvidos são também feridos por sons altíssimos para a sua sensibilidade, principalmente porque ninguém se preocupa em baixar a voz e evitar os rumores inúteis. É claro que, nessas condições, o recém-nascido sente medo. E chora...

Mas o bebê se acostuma aos sons, antes de nascer?
- Claro; à voz da mãe, as batidas de seu coração, ao rumor de sua respiração. Mas todos estes sons lhe chegam filtrados, amortecidos pela água em que está imerso. E não é só a agressão dos sons que o fere. Há também uma prova muito difícil a ser vencida: a da primeira respiração. Isto, para o bebê, representa o inferno, a sensação de morte, a angústia da sufocação. Não paramos por aí: o bebê é preso pelos pés, de cabeça para baixo. E a sua coluna vertebral, até então acomodada à posição fetal, é bruscamente colocada em posição de tensão. Será que podemos imaginar essa dor? E depois, o frio da balança, as pálpebras abertas à força, para que se possa pingar um líquido que provoca um ardume muito doloroso. Terminado esse martírio, o “descanso”: longe da mãe, no isolamento do berçário, o recém-nascido toma contato com sensações nunca experimentadas: a solidão, o abandono. O que acontece com um de nós, se fosse de repente lançado num deserto, absolutamente só? Sem entender, sem poder se comunicar, sem esperança? É isso o que sente o bebê, longe da segurança que a mãe lhe dava, do seu calor.

É possível evitar todo este sofrimento?
- Podemos evitar boa parte desse sofrimento. A luz, por exemplo. Claro que precisamos de um pouco de claridade para atender à mãe: mas não é necessário aquele holofote fortíssimo, habitualmente usado. Podemos evitar o barulho, falando baixo ou através de gestos. Com isso, o sofrimento diminui: o bebê nasce, mas não chora. Nesse momento, a mãe precisa ser também acompanhada: muitas ficam desesperadas, porque não ouvem a criança chorar. É incrível como as pessoas associam parto e sofrimento.

Penumbra, silêncio. É assim que começa o nascer sem sofrimento. E depois?
- Logo após o nascimento, o bebê é colocado sobre o ventre da mãe. Ele recebe o seu calor, sente o seu cheiro, o seu carinho. Mas pousar a criança sobre a mãe tem ainda outra grande vantagem: é possível retardar o momento de cortar o cordão umbilical. Fazer isso assim que o bebê nasce é uma grande crueldade. O ar, invadindo repentinamente os pulmões da criança, provoca um grande mal-estar. A única maneira de evitar isso é não cortar o cordão. Oxigenado através dele, o bebê terá tempo de habituar-se à respiração, sem traumas. Claro que isso requer paciência. E tempo: é preciso esperar quatro ou cinco minutos antes que o cordão pare de pulsar. É uma questão de escolha: ceder à nossa pressa ou dedicar um pouco de compreensão, de amor àquela criança indefesa, desprotegida.

Mas as crianças nascida por esse método são diferentes? Não choram, não se desesperam, não têm medo?
- São crianças diferentes. Alguns sorriem logo depois do nascimento e isto é um milagre, porque geralmente um bebê sorri só depois do primeiro mês. Mas o verdadeiro milagre se realiza depois. Essas “novas crianças” não conhecem a agressividade, o medo, a sensação de solidão. São em média mais amadurecidos do que aqueles nascidos pelo método tradicional. A razão é simples: o medo não foi a primeira experiência de sua vida. São crianças que não experimentaram a violência. Não se sentiram abandonadas. O nascimento sereno dá um rumo diferente a toda a vida.

Depois de tudo, dá para sentir que esse método exige apenas amor e paciência. Não é necessário adquirir novos aparelhos, nem contratar novos funcionários. Em resumo, o método Leboyer não custa muito. Por que, então, não é mais difundido? Por que não há uma aceitação maior?
- Porque as pessoas, os médicos principalmente, não têm vontade de mudar. Porque sempre o parto foi violento, e as pessoas não vêem muitas razões para que agora seja diferente. E, enfim, pela razão mais terrível de todas: para que um bebê nasça com amor, é preciso que as pessoas tenham amor para dar. E esse sentimento está desaparecendo, vemos isso todo dia. A cada dia, diminui o amor dentro das pessoas. E o amor pelas crianças não é uma exceção.

 

3 comentários:

  1. Lindo a entrevista!!! Todos deveriam ler, conhecer, se inteirar!!! E tem uma grande e triste realidade hoje em dia que temos que fazer cair por terra:"Para que um bebê nasça com amor, é preciso que as pessoas tenham amor para dar. E esse sentimento está desaparecendo, vemos isso todo dia. A cada dia, diminui o amor dentro das pessoas. E o amor pelas crianças não é uma exceção." Precisamos que essa realidade seja modificada, seja outra!!! Precisamos mudar!!! Nascer Sorrindo!!! Lindo livro, que eu tive a graça de ter lido e de através desse livro ter começado a mudar minha forma de ver a maternagem, hoje vejo a maternagem com amor, com intuição, com instinto... Não consigo me tratando meus filhos como minha mãe tratou eu e meus irmãos, como minha vizinha trata os dela e como milhares de pessoas fazem... Me vejo dando amor demais, carinho demais, COMPREENSÃO demais... Me desculpe Fran o longo texto mas fiquei profundamente tocada por ele!!!

    Bjs

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    1. Tati, que lindo texto! Bom, é exatamente assim. Precisamos que mais mulheres mudem seus pensamentos, que elas enxerguem que maternar é se doar, é dar amor, e que nada disso tem a ver com 'exigências demais'. Tem mulheres que sentem que perderam a vida depois que seus filhos nasceram. Ao contrário disso, nós somos mulheres completas, apaixonadas. Talvez precise mesmo de mais informações, sabe? De mais compreensão. Talvez muitas mães não tiveram também todo o carinho e atenção enquanto eram bebês. O mais importante, é deixar florir aquele sentimento maravilhoso que todas carregamos dentro de nós! O amor materno! Um beijo minha querida!

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  2. Amei o conteúdo e a composição!! De fato quando for ter meus nenês, é este método que irei usar!

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